fanzines de banda desenhada

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Znok - nº1 - Dezembro 08

Capa do fanzine Znok
Contracapa

Capa e contracapa constituem um todo interessante, onde apenas a figura feminina destoa do estilo aterrorizador das personagens que formam o background. Mas esse é um defeito que se encontra muito na BD, em que as figuras das personagens reais por vezes não estão em consonância estilística com as das imaginárias



Sublinho a inteligente utilização de um código muito habitual na linguagem da BD, os "pequenos círculos" (há quem lhes chame "borbulhas") a indicar o pensamento da personagem (note-se que foram desenhados por cima do balão-pensamento, de uma forma não usual, mas perfeitamente compreensivel).

Uma prancha dupla bastante imaginativa, bem congeminada e concretizada, apenas com um senão: a leitura das legendas oferece alguma dificuldade, mesmo depois de ampliada a prancha, pelo facto de não respeitarem as normas da leitura habitual, isto é, da esquerda para a direita e de cima para baixo.
Para facilitar, transcrevo as primeiras cinco:
1) Foram tempos difíceis, órfã num país devastado pela fome"
2) Mas como em tantas vezes na minha vida, a "sorte" salvou-me"
3) Uma família de emigrantes adoptou-me e levou-me para para os Estados Unidos"
4) Mas foi morta por uma família índia que também me adoptou, mas que depois,"
5) acabou chacinada no massacre de Kaibal Creek em 1854

A segunda bd (que aparece sem título) apresenta, em primeiro plano, logo na prancha inicial (a que reproduzo em cima) uma cena forte e invulgar na BD de novos autores portugueses - na dos veteranos, uma cena destas. nem pensar...

"Olá. Esta é a primeira edição, o primeiro número, o primeiro tudo", frase quase emocionada com que Filipe Duarte Gonçalves inicia a apresentação do seu fanzine Znok.
E, digo eu agora, é também o nascimento de mais um faneditor, que surge pelos motivos habituais: gostar de fazer banda desenhada, e perceber que a (quase) única forma de a mostrar publicamente é auto-editar-se (passando desta forma a ser mais um editautor).
Coisa não muito vulgar é a do fanzine ser acompanhado por um folheto que, suponho, também terá sido distribuído pelos locais onde o pôs à venda, e que diz o seguinte:
"Cumprimentos.
Chamo-me Filipe Gonçalves, e tenho-me dedicado, desde há algum tempo. à escrita de banda desenhada.
Atendendo ao facto de não ter uma editora que divulgue os meus trabalhos, aproveito esta oportunidade para vos divulgar o primeiro número do meu fanzine, de forma a que, caso seja do vosso agrado e exista possibilidade logística, o possam expor para venda, no vosso estabelecimento.
Mais informo também que caso o fanzine vos agrade estarei disponível para vos fornecer mais exemplares, e até mesmo mais trabalhos de Banda Desenhada através dos seguintes contactos:
Filipe Gonçalves
FilipeDuarteBD@Hotmail.com
966580224
Devo dizer que no momento em que afixo este "post", o Filipe já editou mais três números, o que significa uma boa capacidade de produção, visto ser ele a fazer tudo, a realizar as bandas desenhadas (escreve os argumentos e desenha) e a editar o fanzine (eis a razão óbvia pela qual o classifico de editautor).
Disse as bandas desenhadas? E disse bem. Embora em estilos diferentes, quase não parecendo desenhadas pelo mesmo autor, o fanzine inclui duas bedês curtas, intituladas "O Diabo que te carregue" (12 pranchas, sendo dupla uma delas), a segunda, sem título - um pormenor desvalorizador - de quatro pranchas.
Na apresentação, diz o autor o seguinte:
"A primeira história foi feita no Ar.Co, no workshop de BD. A segunda trata-se da minha última proposta para a FIBDA, a qual já concorro à bastante tempo."
Aproveito para corrigir os erros sublinhados a vermelho, o segundo dos quais muito habitual, ou seja, há quem se esqueça que a noção de tempo é dada pelo verbo haver, logo, a frase deveria ter sido escrita da seguinte forma:
"à qual já concorro há bastante tempo".
"O diabo que te carregue", a bd inicial, parte duma ideia curiosa: uma jovem que diz ter sido amaldiçoada ao nascer, e por isso nunca morrerá. Mas ela quer morrer, já é demasiado idosa, pois nasceu em 1850. Todavia, o ser maléfico a quem ela se dirige prefere continuar a assistir à vida dela, fazendo-a sofrer à medida que a faz viver.
O argumento decorre de forma que prende a atenção, apenas o final descamba para uma cena de humor banal que desilude a expectativa.
A segunda bd (terá sido desenhada em formato A4, pelo menos, e ao ser reduzida para o A5 do zine, fez com que as legendas ficassem pouco legíveis), a tal sem título, começa também de forma promissora. Ora leia-se a frase que antecede a primeira vinheta:
"Num admirável mundo novo, existem bailes de máscaras reais que tornam quem as utiliza naquilo que quer ser".
Depois, uma personagem feminina, a um padre que lhe pergunta,
"Também quer salvação?"
ela responde:
"Obrigada padre mas eu não preciso de salvação. Aceito-me como sou. Simples, modesta, mas verdadeira. Enfrento as consequências dos meus actos à minha maneira. Neste mundo de enganos cada vez mais mecânico, eu vivo feliz sem máscara."
O episódio terá um final imprevisto, bem imaginado. E o estilo desta bd é invulgar, com vinhetas que agradam pela irregularidade estética, em conjunto que se encaixa num tipo de BD alternativa.

Znok - nº 1
Não indica data da edição [Dezembro 2008]
Formato A5
Editor: Fikipe Duarte Gonçalves
Tiragem não indicada [100 exemplares]
Lisboa

domingo, dezembro 20, 2009

Tomorrow the chinese will deliver the pandas - Editoras independentes, edições alternativas (I) -Junho 08

Capa do mini-álbum
Lígia Paz, a namorada de Marco Mendes (não está identificada, mas eu reconheço-a bem, porque a conheci quando veio à Tertúlia BD de Lisboa, no mês em que Marco Mendes foi o Convidado Especial).
Embora menos reconhecível, eu arriscaria afirmar que foi rambém ela que serviu de modelo à sugestiva figura feminina da ilustração da capa.

Quanto à personagem masculina, travestida, julgo que será o próprio Marco Mendes, que, com frequência, se autorretrata nas suas bandas desenhadas.

É fácil de perceber que as tiras que encimam as pranchas referem-se a um gag, em que participa um amigo do Marco Mendes, a tomar banho e a dar uma passa, enquanto este está sentado na sanita e recebe o charro de volta.
Um brincalhão de grande talento, este Marco Mendes, que já merece aparecer num trabalho de maior fôlego, em álbum. Mas, se calhar, precisa de um argumentista (ele tem sentido ficcional e de humor, mas sempre num registo de "curtas".



As seis pranchas acima reproduzidas são acompanhadas por diferentes bedês apresentadas por tiras em rodapé, excepto nas duas primeiras páginas, em que as tiras estão colocadas sobre o episódio em tipo de continuação
Outro retrato de Lígia Paz, a namorada de Marco Mendes (garanto que está muitíssimo parecida), aliás desenhada com amor evidente, mau grado a frase dela (faz parte da ficção...)

Retrato de Janus (com impecável semelhança), um amigo de Marco Mendes, também ilustrador/autorde BD, também do Porto, e igualmente já Convidado Especial da Tertúlia BD de Lisboa, há uns anos.

EDIÇÕES ALTERNATIVAS

"Tomorrow the chinese will deliver the pandas" é o título completo desta curiosa edição feita em Portugal mas toda legendada em inglês.
Marco Mendes é autor deste álbum, o que dá para considerar uma obra monográfica, visto ser composta totalmente por bandas desenhadas, ilustrações e retratos, tudo da autoria do talentoso artista, autor de BD, ilustrador e retratista.
E classifico o pequeno álbum como edição alternativa, por ter sido produzido por uma pequena editora independente (seja lá o que isso for), a Plana.
Disse-me o Marco que a edição em inglês terá sido uma ideia de Luís Camanho, dono da citada editora, a fim de ser enviada para editoras independentes estrangeiras, embora, ao que parece, a pequena tiragem tenha sido já quase toda vendida a bedéfilos portugueses.
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Tomorrow the chinese will deliver the pandas
Edição alternativa (*)
Álbum em formato A4
Capa a preto e branco e magenta, miolo (.. páginas impressas a p/b)
Data da edição: Junho 2008
Editora [independente] Plana
Porto
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(*) Porquê edição alternativa e não fanzine? Qual a diferença?
Um fanzine é um magazine feito sem intuitos lucrativos por um faneditor (editor amador), ou por um grupo de entusiastas (editores amadores), ou por uma associação sem fins lucrativos.
Uma publicação alternativa tanto pode ser uma revista como um álbum, editadas por uma pequena editora normalmente considerada "editora independente", por se dedicar a um tipo de publicações de temas geralmente não tratados pelas grandes editoras, mas igualmente com fins lucrativos, pormenor que marca a ténue fronteira que as separa dos faneditores e seus fanzines.
No caso da edição de BD, prevalece a banda desenhada de cariz underground, dita alternativa.
Nota: Trata-se de opinião própria, não extraída de qualquer obra publicada.

Geraldes Lino

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quinta-feira, dezembro 17, 2009

Folha Volante - nºs 241 e 242 - 8 Dezembro 09

Homo Sapiens! Sapiens?
bd autoconclusiva, em prancha única.
Autoria (argumento, desenho e legendagem):
J. Mascarenhas
in revista Biologia & Sociedade
nº 8 - Abril 09



Egipto , 240 A.C., bd autoconclusiva em prancha única .
Autoria (argumento, desenho e legendagem): Luís Belerique
in revista Cais - nº 145 - Out. 09


"O algarvio José Carlos Fernandes (n. 1964) costuma ser apontado, com toda a justiça, como o mais importante autor de banda desenhada português em actividade. Desenhador mediano, Fernandes, que já publicou mais de 30 obras desde 1993 (entre as quais os seis volumes da excelente série A Pior Banda do Mundo), compreendeu que o seu traço, demasiado rígido r monótono, acabaria por ser um espartilho visual para as suas histórias. Procurou então alguém capaz de mudar mais vezes de estilo do que a Cher muda de roupa durante um concerto ao vivo.
No belíssimo Tratado de Umbrografia (Devir, 2006), percebeu-se que Luís Henriques (n.1973) era o homem certo para a função. Com um talento camaleónico, este ilustrador sugere atmosferas radicalmente diferentes para cada narrativa, as com uma adequação estilística (e até cromática) que roça a perfeição. (...)"

Muito boa análise - embora seja apenas o início do texto -, escrito por José Mário Silva (in revista Ler, Dez. 08). A leitura completa deste texto e dos restantes pode ser conseguida em boas condições, caso se clique em cima da imagem (peço desculpa aos iniciados que sabem isto muito bem, mas há sempre iniciantes...).

Matriz (em cima), cópia reproduzida em impressão digital em papel verde (em baixo)

Na coluna da esquerda, sob o título 'Stuart Carvalhais: Quim, Manecas e o Futurismo', pode ler-se:
"A 21 de Janeiro de 1915, enquanto o mundo se preocupava com o curso da Grande Guerra, publicava-se no suplemento O Século Cómico a primeira aventura de Quim e Manecas.

A série, criada por Stuart de Carvalhais (1887-1961), havia de durar até 1953 e aproxinar a BD dos portugueses."

Da coluna da esqueda, dedicada a Rafael Bordalo Pinheiro, respiguei o seguinte escerto:
"Há uma relação antiga entre Portugal e a BD, ao ponto de haver quem pretenda que foi aqui que a BD se fez primeiro.
Foi com as Invasões Francesas e consequente domínio inglês que a ilustração como arte foi descoberta pelos portugueses. Essa nova dimensão do desenho foi aproveitada para regenerar a tradição antiga da crítica de costumes, sobretudo de uma forma risível. A transformação desta ideia numa narrativa desenhada aconteceu com Raphael Bordallo Pinheiro. Nascido em 1846(..)
Assim chegamos a 'Apontamentos sobre a Picaresca Viagem do Imperador do Rasilb pela Europa', o primeiro álbum de BD português. Lá se conta uma imaginária passagem de D. Pedro II do Brasil por Portugal numa narrativa continuada onde se subvertem as regras conhecidas da ilustração: Raphael inventa novos sinais gráficos, desrespeita as dimensões das vinhetas (...)"

Apenas dois curtos excertos (o primeiro da coluna da esquerda, o segundo da da direita) extraído da rubrica Especialista BD, que se publica semanalmente, à sexta feira, coordenada e escrita por Cristóvão Gomes - ainda há bedéfilos com sorte, que conseguem ter um espaço de papel para escrever sobre BD (eu posso escrever neste blogue, mas não é a mesma coisa...) - e onde, sucintamente, o citado jornalista, amante da figuração narrativa, nacional e estrangeira, muito provavelmente estará a dar novidades a um numeroso público que lê um dos nossos mais interessantes, ao nível de apresentação gráfica e de conteúdo, jornais.

Este "slimzine" intitulado folha volante é editado em duas versões, uma dedicada a divulgar notícias&críticas, a outra em que reproduzo bandas desenhadas, na sua totalidade (quando abrangem apenas duas pranchas) ou de forma parcial (quando mais extensas), publicadas em jornais ou revistas não especializadas em BD.
Seja-me perdoada a repetição, mas acredito que haja sempre novos visitantes que não têm pachorra para visitar as postagens atrasadas.
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Folha Volante
Nº 241 e 242
8 Dezembro 09
Formato A4 - (Uma folha A4, de cor verde) fotocopiada frente e verso a p/b
Fanzine aperiódico
Tiragem: 100 exemplares
Distribuição gratuita na Tertúlia BD de Lisboa
Editor: Geraldes Lino
Apartado 50273
1707-001
Lisboa

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sexta-feira, dezembro 04, 2009

Fandclassics - nº 3 - 3º trimestre de 2008


A fotografia de Milton Caniff


Uma tira de apresentação das personagens de"A Vingança de Lady Dragon" - Terry Lee, Pat Ryan, Connie e Lady Dragon, mais as cinco tiras iniciais do episódio.
Contracapa do fanzine

Terry e os Piratas (Terry and the Pirates), obra de Milton Caniff, é indubitavelmente uma das obras mais marcantes da Banda Desenhada Clássica, e José Pires - consagrado autor de BD - seu acérrimo "profeta" na Europa.
Fandclassics, um dos seus fanzines, já vai no terceiro fascículo dedicado àquela série, e, com a liberdade característica dos zines - e também dos seus faneditores -, desta vez há uma alteração no objecto gráfico: mantém o formato A4, mas usando-o ao baixo, no que se chama "formato italiano".
Nele se inclui o 3º episódio, intitulado A Vingança de Lady Dragon.
Qual o motivo desta mudança? Como explica o faneditor, decidiu-a devido ao facto de ter de reproduzir tiras diárias, que nas edições anteriores reduzira bastante, prejudicando os desenhos e a legibilidade das legendas.
Na introdução, escreve José Pires, também autor da pesquisa histórica bem como dos interessante e textos:
"(...) Sabemos que esta série começou a ser publicada entre nós, primeiro pela Agência Portuguesa de Revistas - ainda nos anos 70 do século passado - e, posteriormente, em tira diária no jornal Público.
Mas nunca passaram dos dois primeiros episódios! Creio que agora já podemos imaginar porquê. É que no jornal onde a série começara, o Chicago Tribune, publicavam-se as tiras diárias, tendo uma página dominical, com as mesmas personagens, mas com histórias diferentes, a cores e em maior formato.
Estas páginas dominicais apareciam em quatro tiras com um máximo de três vinhetas distribuídas, ostentando logo a primeira vinheta, sempre mais longa do que as restantes, o título "Terry e os Piratas". (*)
Pouco mais de dois anos volvidos, por decisão de Milton Caniff ou da direcção do jornal - não nos é possível averiguar isso rigorosamente -, estas páginas dominicais começaram a aparecer integradas nas aventuras que a tira diária publicava, tornando a sua publicação noutros moldes (tira diária em jornais que não tinham suplementos dominicais) mais restritiva e sem possibilidade de sequência normal - ou a publicação seguia os moldes do Chicago Tribune, ou então nada feito!
Esta decisão surge incompreensível, pois este formato tornava muito mais limitativa a sua inserção noutros meios de publicação! - ninguém estaria facilmente na disposição de publicar uma coisa que, uma vez por semana, aparecia em formato maior e a quatro cores! (...)
Devem ter sido igualmente estes mesmos problemas que limitaram a publicação da série num número muito maior de jornais, o que não foi suficiente para a relegar para um "esquecimento" que seria mais do que injusto, desfrutando a série, principalmente nos Estados Unidos, de uma popularidade que fazem dela uma das comic strips de culto (...)
Mas nós conseguimos resolver este magno problema, com recurso às técnicas de informática mais sofisticadas, removendo as cores, retirando tudo o que tornava a série menos fluente e linear.
Houve ainda um outro problema, mas esse insuperável: é que o formato das vinhetas das páginas dominicais era ligeiramente diferente das vinhetas das tiras diárias, mas nunca cometeríamos o crime de amputar os magníficos desenhos de Caniff! Assim sendo, os felizes possuidores desta nossa versão de Terry e os Piratas terão nas suas mãos algo de absolutamente novo em todo o mundo! Nada mau, pois não? (...)"

(*) Em inglês, obviamente - comentário deste bloguista.
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Fandclassics. O fanzine do fanático dos grandes clássicos da BD
Nº não indicado [Nº3]

Data não indicada - [4º trimestre.08]
Tiragem não indicada [12 exemplares, conf. inf. pesoal do faneditor, que editará mais para satisfazer pedidos]
Formato A4 ao baixo, tipo italiano
Capa e contracapa a cores
Conteúdo: 130 páginas a preto e branco
Editor - não indicado [José Pires]
Lisboa