fanzines de banda desenhada

sábado, dezembro 27, 2014

Bhreu Fanzine nº 0 - Primeiro zine editado na Sertã








Surpreendentemente, sem qualquer antecedente na área fanzinística, eis que uns tantos entusiastas de diversas áreas culturais e artísticas se decidem reunir trabalhos seus numa publicação de um género inusitado na vila de Sertã, um fanzine. 
Deu-se o acontecimento editorial amador na frialdade de Dezembro de 2014, e a publicação teve o título Bhreu Fanzine.

Mas afinal, o que é isso de fanzine? Um magazine editado por um fã. Ou por um grupo de fãs, ou por uma colectividade de âmbito cultural. Quanto à origem do neologismo, ele nasce da contracção da palavra fã (ou fan, na versão anglófona) com as duas últimas sílabas de magazine.
 
Editado, escrito e desenhado por elementos ligados ao Clube da Sertã, o Bhreu entronca na categoria de fanzine "mix", visto que inclui um misto de temas, entre os quais a BD em destaque com direito a duas obras.

Por conseguinte, no que se refere à banda desenhada, o Bhreu corresponde a um de três itens: o dos fanzines com BD, ficando os restantes dois nas seguintes definições: 
- de BD - todos preenchidos com bandas desenhadas;  
- sobre BD - totalmente dedicados a textos de estudo, crítica, biografias, em suma, de divulgação da especialidade.

Apesar de não ter sido editado por um simples amador fã de zines, o Bhreu mantém a condição de fanzine pelo facto de ter tido por editora uma colectividade dedicada à cultura, à arte e ao entretenimento sem fins lucrativos, caso do Clube da Sertã.

De resto, o Bhreu corresponde inteiramente às características que se integram no conceito de fanzine: as colaborações são pro bono, tem uma tiragem pequena, como é usual nos zines, o que não possibilita distribuição a nível nacional, ficando limitado à venda na localidade onde é editado, a periodicidade é habitualmente irregular, sai quando sai, porque fica dependente de haver colaborações gráficas e literárias prontas e suficientes para publicar. 
Mas, last but not the least, tem a qualidade inestimável da total liberdade editorial, literária e visual (neste pormenor é bem representativo o cartoon "Feliz Natalcool" de Rui Martins).  

O Bhreu Fanzine nesta edição experimental e inaugural - nº0 - apresentou-se sob óptimo aspecto gráfico, com impressão digital de elevada qualidade - muito idêntica à do offset - sobre excelente papel couché e englobou bandas desenhadas, cartunes, ilustrações, fotografias, composições artísticas, e artigos sobre temas bastante diversificados, abarcando a actividade teatral local, crítica de cinema, bandas musicais e respectivos projectos, fotografia, arte contemporânea, uma biografia de personalidade local, e até um artigo de enólogo a respeito, obviamente, de vinhos.

O fanzine teve a colaboração de (por ordem alfabética): André Ventura, Hugo Xavier, João Miguel, Jorge Firmino, Lúcia Leitão, Marco Figueiredo, MC - Margarete Casquinha, Miguel Calhaz, Osvaldo de Campos Antunes, Paulo Belchior, Pedro Antunes, Rui Martins ("Pesadelo" ou "Pesa"), Rui Pedro Lopes, Rui Silva. 

Ficha Técnica
A frase que aparece escrita na página 2 a apresentar os responsáveis do "Brheu" é desconcertante, a condizer com o espírito fanzinístico, e reza assim:

"Directores, Editores e Ditadores deste fanzine, são todos aqueles que não participam"
  
Título: Bhreu Fanzine
Nº 0 - Dezembro de 2014
Formato: A4 (21x29,7cm)
Nº de páginas: 40
Impressão digital a preto e branco
Revisão ortográfica:
Geraldes Lino
Tiragem de 100 exemplares
Sem regularidade periódica

Uma produção:
Clube da Sertã
Morada: Rua Serpa Pinto
Código Postal: 6100-730 Sertã 
Telefone: +351 918 721 460
http://clubedaserta.pt

Para participar, enviar trabalhos para o endereço de email.
bhreufanzine@clubedaserta.pt

Nota: Essa edição inicial do Bhreu Fanzine englobou um CD, editado pelo Clube da Sertã, com três "demos" que incluem interpretações de Miguel Calhaz, sendo o primeiro intitulado "Era Uma Vez Um País", tema da banda desenhada homónima com desenhos de Hugo Xavier, publicada no zine. 

Geraldes Lino
Militante da BD e dos Fanzines 
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Notas  pessoais acerca da minha ida à Sertã pela primeira vez, em Dezembro de 2014

Não conhecia a Sertã. A minha estada foi curta, mas chegou para ficar muito bem impressionado com a vila, pelas paisagens que a rodeiam, pela simpatia dos sertaginenses, e pela buliçosa vida nocturna.

Esclareço: a vida nocturna a que me refiro apenas tem a ver com o Clube da Sertã, uma colectividade com grande actividade cultural e artística, onde passei as noites de Sexta e Sábado, 19 e 20 de Dezembro.

No Cine-Teatro Tasso - um espaço incluído no grande edifício onde se situa o Clube da Sertã - assisti a um concerto de guitarra clássica; e noutro local do mesmo casarão, estive presente na inauguração de um núcleo museológico - o Gabinete de Curiosidades.

A minha participação foi anunciada sob o título de "Seminário Sobre Fanzines", e foi complementada com o lançamento do Bhreu Fanzine.

Terminei a noite a ver e ouvir o guitarrista e cantor e apreciador de BD Rui Martins - conhecido entre os amigos por "Pesadelo" ou simplesmente "Pesa", acompanhado pelos jovens músicos Marco Figueiredo e Pedro Antunes.

Foi pelo conhecimento ocasional com Rui Martins, no programa ao vivo "Viva a Música" da Antena 1, no Teatro da Luz em Lisboa, que se viria a proporcionar esta minha ida (inesquecível) à Sertã. 

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terça-feira, dezembro 16, 2014

Café Noir - Fanzine estrangeiro premiado







Café Noir é o tipo de fanzine de BD que, devido ao seu excelente nível gráfico - impresso em offset num papel couché de elevada gramagem - suscita sempre entre nós a tendência para a classificação de revista, ou seja, incluí-lo na área das publicações profissionais e/ou comerciais.

Para afastar quaisquer dúvidas, o Café Noir foi galardoado no grande festival francês de Angoulême, em 1989, com o Alph'Art destinado à categoria de "Melhor Fanzine" do ano, pormenor que foi posto em destaque no canto superior da capa, Prix du Meilleur Fanzine Angoulême 89.

Em Portugal, alguns editores amadores, a fim de evitar que seja classificado de fanzine a publicação que editam, obtêm o ISSN e o Depósito Legal, convencidos que com tais legalizações ela passa automaticamente a ser classificada como revista.

Ora o fanzine em apreço mostra, no canto inferior direito, o ISSN obtido, e na ficha técnica lá está indicado Depôt legal 1er trimestre 1989. Não obstante terem cumprido essas exigências legais, candidataram-se ao Alph'Art a atribuir ao melhor fanzine e foram os vencedores.

Note-se que o Café Noir é publicado pela Association Philactère, uma associação sedeada em Canteleu. Sublinho este pormenor porque, em Lisboa, chegou a criar-se uma associação com o intuito de evitar a classificação de fanzine à respectiva publicação por ela editada.

Todavia, sendo essa associação dirigida por amadores (embora profissionais, sim, mas de áreas diferentes), o conceito estabelecido, que define há décadas o que é um fanzine, é bem claro: uma publicação editada por um ou mais amadores, portanto não editores oficiais, ou por uma entidade cultural, associação ou colectividade, sem fins lucrativos.

O que nada tem de pejorativo, e é pacificamente aceite - até com orgulho cultural em áreas experimentais ou alternativas - em países de mais elevado nível cultural do que o nosso.

Então porquê essa quase fobia que subsiste por cá, essa permanente fuga à palavra, optando, algumas vezes forçadamente, em casos de edições bem modestas, pela outra de revista?

Talvez devido, por um lado, a ainda hoje - passados mais de quarenta anos pela edição do primeiro fanzine português, o Argon - ser escassamente conhecido o neologismo.
Se alguém disser, num meio alheio ao editorial amador, que está a editar um fanzine, poderá receber da parte do interlocutor, a pergunta algo irónica, "mas o que é isso de fanzine"?

Já assim fui questionado imensas vezes. Claro que acabo por explicar, mesmo que sucintamente, a etimologia do vocábulo, que se trata de um tipo de publicação - que pode ter até aspecto de objecto, mas mais habitualmente surge sob o formato de um magazine - editada por um amador ou um grupo, dedicada a um qualquer tema, sendo a banda desenhada, a música e a poesia os temas mais frequentes em Portugal. 
A edição é à custa de colaborações "pro bono", não persegue intenções de lucro, habitualmente tem escassa tiragem, sem periodicidade regular - e mesmo que a indique raramente a cumpre, por falta de verbas ou de tempo - e sem distribuição a nível nacional.

Claro que um faneditor individual, ou uma associação, em alguns casos, consegue uma produção de qualidade. Foi o que aconteceu com o Café Noir, e é visível um certo orgulho no texto introdutório ao lado do Sommaire, onde é referido um anterior prémio, o "Phenix", recebido em Audincourt, e agora (em 1989) um novo galardão, o "Alph'Art".
Um orgulho perfeitamente compreensível.


Imagens que ilustram a postagem:
1. Capa do fanzine 
2. Página com índice, ficha técnica e editorial
3. 2ª prancha da bd "Fort Comme La Mort", de Gallas e Gré
4. Prancha inicial da bd "A L'Ouest", de Jans
5. Entrevista com Paul Gillon
6. Continuação da entrevista, com reprodução de prancha da bd "Fils de Chine", a mostrar os inícios de Gillon, sob argumento de Roger Lécureux, e uma biografia de Paul Gillon
7. Prancha da bd "Le Grand Silence", de Crépel e Grée 

Café Noir
Nº5 - Printemps 89
Preço: 25F - 175FB
Nº de páginas: 68
Formato: A4 - 21x29,7cm
Capa a cores,miolo a preto e branco           

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