Número 0 - Abril 1972
Vale a pena clicar sobre a capa deste nº 0 do "Quadrinhos. Fanzine de Banda Desenhada" de Vasco Granja, para ler o sumário da edição inicial, onde já fala de "Um fanzine português: Argon", editado quatro meses antes.Veja-se, em síntese, o conteúdo deste número inicial:
"Definição de Banda Desenhada"; "O Prémio Saint-Michel 1972 de promoção da banda desenhada"; "Phénix" nº 19; "Encontro com Hogarth"; "Encontro com Gigi"; "Feiffer em «Charlie»"; "La bande dessinée peut être Educative", crítica a livro de Antoine Roux"; Notícia sobre a revista "Vampirella" - nº 15 - Jan. 1972, com Direcção de James Warren, e colaborações de Jose Bea, Richard Corben, Luis Garcia, Jose Gonzalez e Nebot."; Prefácio de Jacques Lob para Hypocrite et le monstre de Loch-Ness"; Curta notícia intitulada "Um fanzine português: Argon". Vários dos textos eram da autoria de Vasco Granja, editor e redactor, mas que também aproveitava textos de outras publicações.
De salientar o facto de todos os textos do fanzine serem dactilografados, trabalho artesanal efectuado pelo próprio Granja. Outro aspecto que merece referência: Vasco Granja nasceu a 10 de Julho de 1925, quando começou a editar este fanzine tinha portanto 46 anos.Ora o primeiro verbete com o neologismo "fanzine" que existe em dicionário é no da Porto Editora, 8ª edição, datado de 1998, onde começa por dizer: Fanzine -s.m. -Revista editada por jovens....... Ora está bem a indicação de "substantivo masculino" (na mais recente edição, de 2009, a indicação passou a ser n.m., ou seja, nome masculino). O que não está bem é a indicação de os editores de fanzines serem obrigatoriamente jovens, porque, tanto nos Estados Unidos como em França, primeiros países onde se editaram fanzines, os faneditores eram habitualmente adultos, mesmo que ainda jovens adultos.Em Portugal, dos oito fanzines editados em 1972, Ano I dos fanzines portugueses, quase todos eles foram editados por adultos. Vasco Granja foi um deles.
Número 1 - Maio de 1972O nº 1 manteve-se dedicado apenas à publicação de notícias, entrevistas e artigos, aparecendo um assinado por Jorge Magalhães, nome que viria mais tarde a ser essencialmente prestigiado como argumentista, mas que aqui escreveu acerca de "Cinema e História em Quadrinhos. Duas Artes afins".
Número 2 - Junho 1972Curiosamente, nesse início da década de setenta do século passado, J. Magalhães, mais tarde prolífico argumentista de BD e coordenador da revista Mundo de Aventuras, estava em Angola, como se vê no presente número deste fanzine, onde se lê:
"O nosso colaborador Jorge Magalhães está interessado em adquirir os números 713 a 748 do "Mosquito". Endereço: Caixa Postal 21 - Porto Aboim - Angola."
Nas entrevistas está uma assinada por Henri Filippini a Claire Bretecher, que fala da sua série "Gnan-Gnans", aceite por Yvan Delporte, chefe de redacção da revista "Spirou", embora o seu substituto tenha suprimido a série (com bastante desagrado de Bretecher), ao que parece por tê-la achado paraecida com os "Peanuts", de Charles Schulz.
Destaque ainda neste nº 2 para a rubrica "Fanzinelogia", onde são recenseados vários fanzines, entre os quais:
Ploff, órgão do Cartoon Museum, que contém a relação da obra de Russ Manning;
Zine-Zone, nº 5, Jan.Fev.1972, salienta-se um texto de J.P.Dionnet acerca de Murphy Anderson;
Impulse (também tivemos em Portugal o fanzine Impulso), cujo primeiro número, sob apreciação, é totalmente composto por desenhos originais de Joe Sinnot, Roy Krenkel, Bill Elder e outros. O seu editor é indicado na ficha técnica: Clifford Letovsky (17, Holly Road, Hampstead 254, Québec, Montreal, Canada)
Alfred - Elo de ligação da Société Française de Bandes Dessinées, refere no nº28 (Abril de 1972) o encontro de Lucca, que estava nessa data já a ser preparado (para o mês de Outubro daquele ano) por Rinaldo Traini (amigo de Vasco Granja, e que eu também conheci pessoalmente). A quase totalidade de informações sobre novaas edições estava a cargo de Jean Pierre Dionnet, e a direcção do fanzine apresentava o nome de Claude Moliterni, que faleceu recentemente.
Stripschrift - Fanzine holandês, o que sempre dificultou a sua difusão em Portugal, mal grado a qualidade dos seus colaboradores.
Witzend - "Um dos mais belos fanzines publicados nos Estados Unidos (...) O número 8 (Verão de 1971) insere trabalhos de Wallace Wood, Bob Stewart, Ralph Reese (...) Steve Ditko (...), uma interpretação extremamente audaciosa de "The Hunting of the Snark", segundo Lewis Carroll, desenhada por John Adkins Richardson, e ainda magníficas ilustrações de Frank Frazette para o poema de Edgar Allan Pöe, "The City in the Sea".
Número 3 - Setembro de 1972Como se poderá ler perfeitamente (basta clicar em cima da imagem), a capa está ilustrada com o autoretrato desenhado pelo artista-autor de BD espanhol Emilio Freixas.
Decorrendo logicamente desse pormenor, logo na página 3 é reproduzida uma prancha da bd "Los Dragones del Tibet", que no cabeçalho indica como autores, J.Canellas Casals, guion, Emilio Freixas, dibujos.
E ainda referente ao ilustre autor de BD, escreve o crítico e estudioso Antonio Lara, no fanzine "Bang!" dessa data (e não, claro, no homónimo recente francês):
"La originalidad y autarquia del estilo de Freixas no tiene tampoco paralelos en la historia del tebeo. Pocos artistas pueden presentar una técnica tan personal, que prácticamente no debe nada a nadie.(...)
"Nico Rosso em Lisboa" é o título da entrevista, feita por Vasco Granja, que começa por apresentá-lo:
"O desenhador brasileiro Nico Rosso esteve de passagem durante dois dias no início de uma viagem de retorno à Europa para relembrar o passado (Nico nasceu na Itália, mas emigrou para o Brasil há vinte e cinco anos, para reconstruir a sua existência, pois a guerra devorara os seus bens).
Nico Rosso pode ser considerado como o mais famoso desenhador de temas fantásticos do Brasil. Entre as suas criações mais famosas contam-se as bandas desenhadas da série "Zé do Caixão", com argumentos escritos por Rubens Francisco Lucchetti (o mais fecundo escritor brasileiro de temas fantásticos), que se baseia na obra cinematográfica de José Mojica Marins, um realizador praticamente desconhecido fora do seu país. (...)
(Nota do bloguista: José Mojica Marins esteve em data relativamente recente em Portugal, num festival de cinema de terror).
Número 4 - Maio de 1973
(Nota na última página, em rodapé do artigo dedicado a Hergé:
"O desenho de Tintin e Milou impresso na capa do presente número de 'Quadrinhos' foi expressamente executado por Hergé como homenagem aos seus numerosos admiradores portugueses").
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No seu conteúdo sobressaem os artigos:
1. Eduardo Teixeira Coelho - Uma presença viva no "Jornal do Cuto" - por Vasco Granja
2. Alguns aspectos da obra de Eduardo Teixeira Coelho - por Ercílio de Azevedo
3. Encontro com Rinaldo Traini em Annecy - artigo não assinado, mas escrito na primeira pessoa, o que significa tratar-se de prosa do próprio editor do fanzine
4. Sebastião da Gama e a Literatura Marginal (uma transcrição do "Diário de Sebastião da Gama")
5. Hergé. Yellow Kid Special -Lucca 72
Número 5 - Setembro de 1973 A capa reproduz um episódio da personagem "Anita Diminuta", com desenho de Jesús Blasco e argumento de A. Lomag
A ficha técnica deste número informa:
QUADRINHOS é um fanzine editado por Vasco Granja para informação das novidades bibliográficas nacionais e estrangeiras. Correspondência: Avenida Bartolomeu de Gusmão, 4-2º-D. - Damaia.
Reproduzo em seguida excertos de vários artigos que compõem o conteúdo do fanzine.
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ANITA DIMINUTA (*)
Texto de Luís Gasca
A história de "Anita Diminuta" é, como o seu nome, pequena e sem muitas anedotas, pródiga, sim, em incidências qual delas a mais disparatada. "Anita Diminuta" nasceu no mundo da banda desenhada quase ao mesmo tempo que "Cuto", a outra grande criação de Jesús Blasco. A pequena heroína dos "tebeos" espanhóis, fez a sua primeira aparição numa revista tão reduzida no formato como o seu nome, chamada "Mis Chicas", quando o semanário "Chicos" modificou o seu aspecto. Desde o seu primeiro número, com a data de 2 de Abril de 1941, "Anita Diminuta" figura na capa, ocupando um lugar de honra que só abandonou, salvo raras excepções, ao transformar-se esta revista no semanário "Chicas", mais tarde.
"Cuto" é valente, decidido, um rapaz esperto, com a vida plena de aventuras plausíveis e em quem todos os pequenos leitores se identificam com facilidade. "Anita", pelo contrário, vive num mundo de ficção, de conto de fadas, onde nada é logicamente possível. E portanto agrada às meninas, que procuram não participar na acção mas apenas viver aventuras irreais. Outro aspecto que distingue as duas maiores criações de Blasco nos anos 40, "Cuto" e "Anita Diminuta", é a solidez dos argumentos dessa primeira criação, explendidamente construídos, perante certas debilidades da linha narrativa de "Anita", que dá por vezes a sensação de terem sido escritos sem ter em conta as incidências anteriores. Tudo isto, juntamente com marcados caracteres fantásticos, característicos da literatura de histórias de fadas, fazem de "Anita" um caso à parte na história do "comic" espanhol. (...)
(*) Em Portugal o nome foi transformado em "Anita Pequenita"
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I ENCONTRO NACIONAL DE BANDA DESENHADA
Organizado por Boommovimento, sob a orientação de António Pedro Pita e José de Matos-Cruz, efectuou-se nos dias 24 a 26 de Agosto, na Figueira da Foz, o Primeiro Encontro Nacional de Banda Desenhada, que teve a participação de cerca de uma centena de assistentes.
Alguns dos temas focados neste encontro: História geral do "comic"; Banda desenhada espanhola; Um novo autor francês: Druillet; Sociologia das histórias em quadrinhos (*); A banda desenhada em Portugal: autores, editoriais, fanzines.
Exposição de pranchas, fanzines e revistas, projecção de diapositivos, feira de edições, debates, discussão de projectos e distribuição de textos teóricos completaram esta interessante iniciativa. (...)
(*) Este texto, escrito pelo faneditor Vasco Granja, reflecte a sua inclinação para usar o vocábulo "quadrinhos", mesmo quando o título desse livro publicado em Portugal, talvez o primeiro da especialidade, tenha o título de "Sociologia das Histórias aos Quadradinhos".
De notar também que faz o registo de um evento pioneiro em Portugal dedicado à Banda Desenhada, que, não se tendo chamado Festival, apenas "Encontro", teve vários componentes que constituiriam mais tarde o I Festival de Banda Desenhada de Lisboa, em Março de 1982.
Nº 8 - Novembro 1974, último número do fanzine Quadrinhos, de que possuo duas versões diferentes, no que se refere à cor da capa, talvez devido a nova tiragem de uma quantidade não indicada de exemplares Como já tenho escrito, os fanzines são sempre temáticos, sendo os mais numerosos, entre nós, dedicados à BD.
Dentro desse tema, eles dividem-se em:
1) Fanzines de banda desenhada (os que são preenchidos, na sua totalidade, por bedês);
2) Fanzines sobre banda desenhada (os que se dedicam a publicar textos sobre BD: estudos, críticas, notícias, entrevistas com autores, editores, coleccionadores, fanzinistas);
3) Fanzines com banda desenhada (aqueles que incluem artigos de diferentes temas, intercalados por apenas duas ou três bandas desenhadas.
O fanzine Quadrinhos começou por ser "sobre banda desenhada", como se depreende pela leitura da síntese do conteúdo do nº 0, totalmente preenchido por artigos e notícias.
(EM CONSTRUÇÃO)
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Quadrinhos - Fanzine de Banda Desenhada (*) Fanzine aperiódico "para defesa e ilustração da banda desenhada
Formato A4, com nº irregular de páginas, entre 10 e 18, sendo habitualmente de papel de cor (amarela, roxa, verde, rosa) a capa, ou primeira página, e o miolo constituído por folhas por vezes de cores variadas no mesmo exemplar, agrafadas com apenas 1 agrafe no canto superior esquerdo
Editor: Vasco Granja
("Se quiser receber o número 1 envie 5$00 em selos de correio para Avenida Bartolomeu de Gusmão, 4 - 2º -D. Damaia" - era a nota existente na página 2 do nº 0, de Abril 72)
(*) Editados 8 números, entre Abril de 1972 e Novembro de 1974
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Para ler alguns elementos biográficos acerca de Vasco Granja, editor deste fanzine, é favor clicar no endereço