Efeméride #5
O fanzine Efeméride foi criado no invulgar formato A3 para homenagear personagens de banda desenhada criadas em tempos idos, e que foram atingindo, após o seu aparecimento - quer nos suplementos dominicais americanos, quer em revistas - um número redondo de anos: Little Nemo in Slumberland, de Winsor McCay, teve início em Outubro de 1905, o que deu azo à comemoração da efeméride dos cem anos, tendo eu editado o primeiro número do fanzine Efeméride em Outubro de 2005, com o título Sonhos de Nemo no Século XXI, cujas pranchas constituiram uma exposição patente no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora
O projecto desenvolveu-se com as obras Príncipe Valente no Século XXI (Nº 2 - Fevereiro 2007), Super-Homem no Século XXI (Nº3 - Junho 2008), Tintim no Século XXI (Nº4 - Junho 2009) e, finalizando a existência do fanzine, com o nº5 dedicado a Corto Maltese no Século XXI (*), no mês de Julho de 2012, quarenta e cinco anos depois do início da sua publicação, na revista italiana Sgt. Kirk, em Julho de 1967.
(*) Tal como acontecera com as pranchas do nº1, também as deste nº 5 deram azo a uma exposição, desta vez no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, entre 26 de Maio e 10 de Junho de 2012.
As imagens que ilustram o topo do "post" referem-se a (de cima para baixo):
1) Capa do fanzine, de Regina Pessoa
2) Prancha do episódio "Cliché", de José Pedro Costa
3) Prancha do episódio "No séc. XXI? Aquilo já era esquisito no séc. XX", de Pedro Massano
4) Prancha do episódio "O Vazio", de Carlos Páscoa5) Prancha do episódio "Corto no Alentejo", de João Sequeira "JAS"(desenho), Luís Pedro Cruz (argumento)
6) Prancha do episódio "Os dois Pratts", de JCoelho (desenho), David Soares (argumento)7) Prancha do episódio "Numa Praia da Linha", de Joana Afonso
8) Prancha do episódio "Corto Maltese e as Mulheres no Século XXI", de Ricardo Cabrita
Ficam aqui reproduzidas a capa e sete pranchas como mero "teaser" para os interessados em verem a totalidade das 43 que compõem o miolo do fanzine
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Para quem não conheça o zine, nem o venha a conhecer - a tiragem é de 150 exemplares apenas, e já só restam poucos - reproduzo o meu editorial:
Corto Maltese alter ego de Hugo Pratt
Há muitas semelhanças entre Hugo Pratt, autor de banda desenhada, e Corto Maltese, herói de papel por ele criado. É um facto detectado pelos especialistas e pelos leitores mais atentos.
Todavia, um pormenor importante os distingue. Enquanto que Hugo Eugenio Pratt, como qualquer mortal, nasceu apenas uma vez - em Rimini, Itália, a 15 de Junho de 1927 -, Corto Maltese nasceu duas vezes, por muito estranho que isso pareça, mesmo para uma personagem de BD.
A primeira foi quando o seu criador ficcional e gráfico lhe marcou, como data de nascimento, 10 de Julho de 1887. A segunda teve lugar no acto concreto da sua aparição comopersonagem de banda desenhada, no primeiro número da revista mensal italiana Sgt. Kirk, em Julho de 1967. É nessas páginas que se publicam as primeiras seis pranchas da novela gráfica Una Ballata del Mare Salato.
Quando Corto surge, a sua imagem não corresponde propriamente à de um herói: ele aparece amarrado a uma cruz decussata em cima de uma jangada que voga ao largo das ilhas Salomão, em pleno Oceano Pacífico. E representa, naquela obra seminal, o papel de mero figurante.
Para cúmulo, as suas origens que posteriormente se vêm a tornar conhecidas, também não são brilhantes nem têm especial dignidade: nasceu em La Valetta, na ilha de Malta, fruto de relação casual entre a cigana andaluza Niña de Gibraltar, prostituta, e um marinheiro inglês da Cornualha, de passagem ocasional por aquela ilha mediterrânica.
Quanto a semelhanças entre a personagem e o criador, nenhumas até aqui, obviamente. Na realidade, elas detectam-se ao compararem-se com as características nómadas do seu progenitor artístico - neste caso, o autor da ficção -, visto que Corto, sendo marinheiro de profissão, desempenhará, ao longo da saga, o papel de aventureiro errante, protagonista de peripécias em África, nas Caraíbas, no Brasil, na Rússia, na Irlanda, em Itália, mais concretamente em Veneza, cidade pela qual se sente da sua parte um subtil fascínio.
Aqui, a semelhança é flagrante. Pratt, embora nascido em Rimini, passou a infância e parte da juventude naquela belíssima cidade do Adriático, que sempre considerou como a sua verdadeira terra deorigem.
E, tal como Corto, também ele viajou muito, tendo vivido mesmo em diversos países -além do seu país de origem, onde viveu a infância, permaneceu durante algum tempo na Etiópia, mais tarde na Argentina, onde trabalhou bastante na BD, depois no Brasil (Baía, Amazónia), e finalmente na Suiça, onde terminou o seus dias, vitimado por cancro, a 20 de Agosto de 1995.
Outras características coincidentes entre autor e personagem: ambos são atraentes e volúveis.
Quanto a Pratt, a sua vida amorosa iniciou-se na adolescência quando vivia na Etiópia, com uma jovem etíope chamada Mariam. Depois desta foi Fernanda Brancati, mas também Erika, Leonora Schena, e várias outras namoradas, até chegar às três mulheres principais da sua vida: Gucky Wogerer, de origem jugoslava, com quem casará em veneza, em 1953 (de cujo casamento nasceram Lucas e Marina) e se divorciará em 1957; Gisela Dester, de origem alemã, que será sua assistente e companheira; e Anne Frognier, de origem belga, com quem teve um filho, Giona, e uma filha, Silvina. Mas também teve uma filha com uma mestiça brasileira da Baía, e a seguir, numa breve passagem de vinte dias pela Amazónia, onde viveu com os índios Xavantes, por lá ficou um filho seu.
No que diz respeito a Corto Maltese, ele é um dos mais charmosos heróis de papel, capaz de impressionar fortemente as mulheres com quem se cruza - Pandora, Morgana, Banshee O'Dannon, Louise Brookszowic, a "bela de Milão", "Pezinho de Prata", entre outras -, e torna-se evidente a sua atracção por algumas, mas jamais se fixará em qualquer delas.
Isto para que - como confidenciou Pratt numa entrevista - Corto se mantenha sempre disponível. Astuto enquanto ficcionista, o autor criou-lhe uma situação especial, a de estar fortemente ligado a um amor perdido, estratagema digno de um criador de génio.
Mas talvez para o mostrar sensível a uma certa nostalgia amorosa, Pratt inculcou-lhe uma bem humana reacção: a de não conseguir apagar da memória a recordação da jovem Pandora, que conhecera em 1913 - tinha ele vinte e seis anos - numa ilha do Pacífico.
Uma outra afinidade entre autor e personagem advém do facto de já muito divulgado de Pratt ser maçon. Em Fábula de Veneza, percebe-se que só alguém conhecedor das praxes maçónicas e dos seus secretismos, poderia incluir, logo na página inicial, certas palavras porventura habituais naquelas cerimónias (proferidas por um encapuçado): "em nome da maçonaria universal, sob os auspícios da Grande Loja de Itália".
Ora, enquanto personagem, Corto igualmente participa, embora acidentalmente, numa reunião de encapuçados maçons. E quando ele comenta "por certo os senhores são da Pitágoras", depreende-se que tem conhecimentos na matéria, mesmo que sendo apenas "o profano Corto Maltese", como lhe chama o "irmão Scarpetton", "Mestre Secreto".
Há ainda um aspecto que mostra como o autor se espelhou na própria personagem: é sabido que Pratt, na sua errante e bem preenchida juventude, chegou a cantar em festas. E Corto também gosta de cantar. Constata-se esse pormenor no episódio Concerto em O Menor para Harpa e Nitroglicerina, quando sai da sua boca um balão de fala cheio de notas musicais, acompanhadas dos versos: "Hoje sou um javali/Sou um rei forte/e vencedor/O meu canto e as minhas palavras eram gratas noutros tempos..."
Restarão dúvidas de que Corto é o alter ego de Pratt?
Geraldes Lino
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Autores das bandas desenhadas (desenhadores e argumentistas) por ordem alfabética:
Alice Geirinhas
Álvaro
Ana Madureira
André Ruivo
ARechena (Andreia Rechena, Dona Zarzanga)
Arlindo Fagundes
Carlos Páscoa
"Zíngr" (Carlos Zíngaro)
Daniel Lopes
David Campos
David Soares
Falcato (Miguel Falcato)
Ferrand (Ricardo Ferrand)
Filipe Abranches
J. Mascarenhas
JCoelho (Jorge Coelho)
Joana Afonso
João Chambel
João Sequeira (JAS)
José Lopes
José Pedro Costa
Lam (João Pedro Lam)
Luís Guerreiro
Luís Pedro Cruz
Machado-Dias
Marco Mendes
Maria João Careto
Mota (Pedro Mota)
Nazaré Álvares
Nuno Saraiva
Paulo Monteiro
Pedro Massano
Pedro Nogueira
Pepedelrey (Elpep)
Regina Pessoa
Renato Abreu
Ricardo Cabral
Ricardo Cabrita
Roberto Macedo Alves
Rui (Rui Pimentel)
Santo (Ricardo Santo, Ricardo Santo Machado)
Susa (Susa Monteiro, Susana Monteiro)
Tiago Baptista
Vasco Gargalo
Victor Mesquita.
Capa
Regina Pessoa
Contracapa
JCoelho / David Soares
Design e paginação: Jorge Silva
http://almanaquesilva.wordpress.com
http://livingdeadcovers.wordpress.com
jorge.silva@silvadesigners.com
Tiragem
150 exemplares
Editor
Geraldes Lino
http://divulgandobd.blogspot.com
http://fanzinesdebandadesenhada.blogspot.com
http://geraldeslino.interdinamica.pt
geraldes.lino (arroba) gmail.com
Apartado 50273
1707-001 Lisboa
Números editados anteriormente, títulos e datas de edição:
Nº 1 - Sonhos de Nemo no Século XXI (Homenagem pelos 100 anos de Little Nemo in Slumberland) - Data da edição: 15 de Outubro de 2005
Nº 2 - Príncipe Valente no Século XXI - Data da edição: 13 de Fevereiro de 2007
Nº 3 - Super-Homem no Século XXI - Data da edição: Junho de 2008
Nº 4 - Tintin no Século XXI - Data da edição: Janeiro de 2009
Notas do editor:
Estes quatro números foram impressos em quadricromia, contrariamente ao presente nº 5, a preto e branco.
Justificação da homenagem a Corto Maltese:
Entre Julho de 1967, data do aparecimento da personagem, e Julho de 2012, data da edição deste quinto número do fanzine Efeméride, medeiam 45 anos.
Em jeito de homenagem, quarenta e cinco autores (43 desenhadores e 2 argumentistas), inventaram novas peripécias, trazendo o herói para o século que decorre e, apesar de viajante compulsivo, fazendo-o visitar novas paragens, inclusive Portugal, onde o seu criador esteve várias vezes.
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Etiquetas: Corto Maltese no Século XXI, Fanzine Efeméride