Anuário Brasileiro de Fanzines
3ADFZPAO é a sigla que se pode ver em destaque na capa desta estupenda edição brasileira, e significa Terceiro Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Alternativas.
Douglas Utescher, seu editor, usa a primeira página para apresentação da obra. Pelo texto fica a saber-se que a primeira edição teve data de 2011, ano coincidente com uma vaga de opiniões derrotistas em relação às publicações independentes impressas - com especial incidência nos fanzines -, em que se considerava chegado o seu fim, substituído pelas novas tecnologias, os média digitais.
Radicalmente contra deprimentes pessimismos, Douglas Utescher insurgiu-se, e congratula-se agora por a realidade lhe estar a dar razão: dois anos passados (note-se que a edição é de 2013) pululam eventos dedicados ao assunto, de que se destaca em São Paulo a Feira Plana (similarmente, tivemos durante anos em Portugal, maioritariamente em Lisboa e por vezes no Porto, a Feira Laica, substituida a certa altura pela Feira Morta), qualquer delas dedicada fundamentalmente às publicações auto-editadas (ou seja, os fanzines e outras edições alternativas) e às micro-editoras independentes.
Por aqui se vê que, tendo em conta a desproporção populacional que separa Portugal do Brasil - só a cidade de São Paulo tem população equivalente à de Portugal -, a realidade fanzinística e da fanedição bem como a da editorial independente dos dois países lusófonos tem pontos de contacto.
Todavia, este anuário marca uma diferença gritante: na actualidade não se publica nada do género entre nós, desaparecido que foi o catálogo de zines editado pela organização do Encontro Internacional de Fanzines realizado durante anos no Ponto de Encontro de Cacilhas (Cidade de Almada).
O ADFZPAO, surge pela terceira vez como corolário do evento anual Ugra Zine Fest, constituindo portanto uma realização diversificada em prol da produção independente, que se consubstancia em 240 títulos lançados por editores ibero-americanos, abrangendo fanzines (incluindo fanzines-objecto, slimzines, splitzines, etc.), jornais alternativos, livros autoeditados de carácter artesanal, em fotocópia ou impressão digital.
O anuário apresenta os fanzines por ordem alfabética (na realidade inicia-se pelo sinal cardinal, visto que o primeiro tem o título #1), e nele cabem publicações dedicadas a todos os tipos de manifestações culturais, artísticas, sociológicas, literárias, esotéricas, lúdicas, sexuais, que se diversificam pelos temas de banda desenhada (ou histórias aos quadradinhos, como se dizia antigamente em Portugal, e histórias em quadrinhos, como se diz no Brasil, ou comic books americanos ou mangá japonesa), fotografia, fotonovela, ilustração, grafitos, redes sociais, anime, rock, colagens, cartunes, resenhas de discos e zines de música, erotismo, pornografia, poesia, prosa, horror, ecologia, letras de canções de bandas punk e outras, resenhas de filmes independentes brasileiros, política, cadavre exquis, educação física (atletismo, jogos paralímpicos), transgéneros (GLBT), cultura punk, bandas hardware straight edge, entrevistas com bandas de vários países. Chega para amostra...
De duas em duas páginas, em rodapé, aparece a rubrica "3 perguntas para..." a que respondem fanzinistas (ou fanzineiros, como preferem os brasileiros) representados no anuário, nomeadamente Roberto Hollanda, Julie Albuquerque, Geraldes Lino (peço desculpa pelo uso da 3ª pessoa), Guilherme Gonçalves, André Escobar, Ricelle Sullivan, Hamilton Tadeu, e vários outros, mas também equipas, designadamente Mapachestúdios, Livrinho de Papel Finíssimo, etc.
Estão registados e devidamente analisados mais de duas centenas de fanzines, todos eles complementados por análises críticas e/ou descritivas de muito bom nível, assinadas pelas simples siglas DU, MS e FG, correspondentes a Douglas Utescher, Márcio Sno e Flávio Grão, a quem se tem de creditar esse trabalho.
O anuário tem na parte final duas rubricas muito úteis: Guia de Eventos e Guia de Acervos.
Tanto um guia como o outro têm as respectivas informações divididas por países.
No Guia de Eventos encontram-se representados os seguintes:
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Espanha e México.
No Guia de Acervos a lista contempla fanzinetecas (ou simplesmente Zineteca, caso da existente em Fortaleza), da Argentina, do Brasil, de Espanha e de Portugal (Viva, pessoal da Uzine Fanzine Fanzineteca de Coimbra).
Um pormenor que me intriga: No Guia de Eventos não descortino o Ugra Zine Fest de São Paulo. Gostaria de saber a que se deve esta ausência...
Contactos com Douglas Utescher:
Caixa Postal 777
São Paulo SP
CEP 01031-970
Brasil
www.ugrapress.com.br
Etiquetas: Anuário Brasileiro de Fanzines, Exposições de Fanzines no estrangeiro