Neste texto, inserido no "Aquinocanto",
deveria estar escrito "e um novo fanzine vai aparecer"
Já tem sido escrito, com frequência, por estudiosos dos fanzines - nos quais me incluo, permito-me dizer - que o neologismo "fanzine", nascido nos Estados Unidos (o conhecido Frederic Wertham, no seu livro "The World of Fanzines", indica o ano de 1930 para o "Comet", iniciador do movimento) e absorvido na Europa nos anos mil novecentos e sessenta, sob o género masculino pelo facto de, na génese do vocábulo, estar o objecto literário, com imagens, o magazine, também popularizado em Portugal nessa época.
Fanzine, neologismo, mas já com verbete em dicionário (pela primeira vez, na 8ª edição da Porto Editora), é formado pela contracção da palavra
fan (fã, em português) e a última sílaba de maga
zine.
Logo, um fanzine é um magazine (ou revista, são sinónimos) feito, editado, por fãs de quaisquer temas, sendo a Banda Desenhada um dos mais frequentes.
Capa do fanzine "Aquinocanto",
da autoria de João Rubim. O fanzine apresenta duas capas diferentes, sendo a outra desenhada por Manuel Brito
É o que acontece com os faneditores Manuel Brito e João Rubim, que editaram três números do fanzine "Aqui no Canto", e mais este agora, especial.
Note-se que em Espanha se diz "el fanzine" (em castelhano) e "o fanzine" (em galego)
Capa de "O Fanzine das Xornadas",
editado aquando da realização das "VIII Xornadas de Banda Deseñada de Ourense" (na Galiza). Este fanzine espanhol é coordenado por Henrique Torreiro, "co patrocínio da Casa da Xuventude de Ourense, Concelleria da Cultura do Concello de Ourense e Dirección Xeral de Política Lingüística da Xunta de Galicia"
tal como acontece em França, visível no excerto de uma crítica extraída da revista "Vécu"
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ou no Brasil, como se pode ver na imagem seguinte
Livro da autoria do estudioso brasileiro Henrique Magalhães
Custa-me dizer isto - sou português... - mas nós, que somos o país europeu com maior índice de analfabetismo, e com elevada percentagem de iliteracia, tínhamos de ser nós a criar esse absurdo linguístico que é mudar o género a um substantivo.
E o que é pior: quando pergunto a algum desses fanzinistas recentes, que dizem "a minha fanzine", por que motivo não dizem "o meu fanzine", respondem-me que é por ser uma revista, e como revista é uma palavra feminina...
E eu costumo objectar: então, como um pinheiro é uma árvore, temos de passar a dizer "uma pinheiro"?!
Uma engraçada tira de banda desenhada do brasileiro Laerte (
in Diário de Notícias, 5 Jan. 2006)
Um universitário da Escola Superior de Design-ESAD, nas Caldas da Rainha - cidade onde há um buliçoso movimento fanzinístico -, reagindo à minha habitual discordância no uso do feminino para o fanzine dele, ripostou, com aquilo que começa a ser um chavão - já não é a primeira vez que oiço justificar asneiras com aquela frase -, "a língua portuguesa está sempre a modificar-se".
Eu sei isso,sou um estudioso da matéria. A componente mais visível dessa modificação é a constante absorção de vocábulos estrangeiros, aportuguesando-os por vezes, criando-se assim neologismos - bloguer ou bloguista, blogosfera, por exemplo.
Mas não há memória de, na língua portuguesa, ter havido mudança de género em algum substantivo. Estou a referir-me a mudanças correctas.
Porque, por iliteracia ou pura ignorância, há quem mude o género da palavra grama (peso). O ano passado, uma funcionária dos correios, aqui em Lisboa, disse-me que a minha carta - com um fanzine dentro - pesava "vinte e duas gramas". Eu perguntei-lhe
se ela também diria, para uma encomenda pesada, "vinte e duas quilogramas"...