Café e Cigarros - (S/nº) - Abril 06
O título do fanzine é Café e cigarros, mas ostenta igualmente um subtítulo: Maratona 12 horas a desenhar.
E, de facto, quando o poeta dizia que "o homem sonha, a obra nasce", mal sabia ele que alguém em Beja iria concretizar a frase em papel e tinta e desenhos e vinhetas e pranchas de banda desenhada. E que, no fim, um fanzine surgiria, fruto de uma experiência invulgar, quase inédita - que eu saiba, em Portugal, só antes tinha acontecido iniciativa semelhante, levada a cabo na Madeira.
Leia-se (parcialmente) o respectivo editorial:
"15 de Abril, Sábado. Às 20h00 a luz ainda teimava em recortar sombras de árvore sobre o chão."
(bonito, digo eu)
"Na Bedeteca de Beja tudo a postos para a Maratona - 12 horas a desenhar, integrada no II Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja. Das 20h00 de Sábado às 8h00 de Domingo... Sobre os estiradores conviviam cadernos de papel cavalinho, blocos de notas e esboços, tubos de tinta da China, pincéis, canetas, lápis e borrachas. (...)"
(...)"Pelas 8h05 da manhã, exactamente doze horas após o início da maratona, encerrava-se a porta da Bedeteca. Os autores saíram. Espreitaram o sol matinal. A vida fluía com naturalidade. Os cafés ameaçavam abrir as portas a qualquer momento. Os homens já se iam juntando na meia laranja. Um cão vagueava junto às laranjeiras que cobrem em colar as traseiras da Casa da Cultura. O dia começava no Mundo."
(bonito, volto eu a dizer)
"Sobre os estiradores 8 histórias de banda desenhada."
Este editorial não está assinado, mas, pelo estilo, aposto dobrado contra singelo, é do Paulo Monteiro, ele também participante na maratona, aliás participante em tudo, desde a organização do Festival, à apresentação dos colóquios, à escrita dos textos, às noitadas de copos...
Saravá, Paulo.
Prancha única, da autoria de Lourenço Mutarelli, com que abre o fanzine.
Logo na vinheta inicial, afloram dois temas do blogue "Divulgando Banda Desenhada": Castelos (a torre do dito cujo de Beja, e a imagem de Mutarelli que representa o próprio autor como personagem de BD.
E já que o tom geral deste "post" incide na expressão "invulgar e inédito", saliento ainda, com enorme sentimento de admiração, pela simplicidade incomum demonstrada pelo consagrado autor brasileiro Lourenço Mutarelli, que participou - como se de jovem iniciante se tratasse - na maratona, o que fica provado para a posteridade pela prancha reproduzida logo no início do fanzine (há que abrir alas ao talento e ao prestígio).
Lista dos autores participantes no fanzine, e títulos das bandas desenhadas (pela ordem de reprodução):
Lourenço Mutarelli - "Pax Julia"
Zé Francisco - "O que deixas de ti"
Susa Monteiro - "Por fim"
Paulo Monteiro - "Os teus róseos lábios"
Véte - "O Grande Tesouro"
Maria João Careto - Sem título (que pena às vezes haver autores que não acham importante pôr título nas bedês, digo eu)
Nuno Rodrigues (desenho), Carina Julião (argumento) - "Infinidade do Tempo"
Victor Cabral - "The Aliens"
6 Comentários:
"Infinidade do Tempo" por Nuno Rodrigues e Carina Julião.
Quanto a histórias sem titulo, por vezes não se aplicam a pequenas situações (que não chegam a ser sequer histórias), e para mais os autores ainda têm liberdade de escolha para querer colocar titulo ou não, como para desenhar personagens com quatro dedos em vez de cinco por exemplo! :)
A autora a que nos referimos chama-se Carina, como você escreveu? Ou o nome dela é Catarina?
Falei há pouco com o Paulo Monteiro, que me esclareceu: há uma Catarina Julião, alentejana, loura (que eu conheço, até já esteve na Tertúlia BD de Lisboa), que é autora completa de BD (escreve o argumento e desenha-o), e há uma Carina Julião, africana, que escreve argumentos, parece que não desenha.
É uma coincidência espantosa, terem ambas o mesmo apelido, um nome bastante parecido, e não são familiares.
Eu quando li na ficha técnica Carina Julião, em vez de Catarina Julião, como eu estava à espera, pensei que tinha sido gralha.
Vou já emendar.
Até eu inicialmente pensei que era gralha,mas depois lembrei-me que a Catarina só lá esteve por um pouco a fazer uns esboços, pelo que não chegou a participar da maratona. Grandes coincidência é verdade. :)
Quanto ao tema de os autores porem títulos, ou não, é um assunto que poderei tratar consigo por e-mail. Envie-me o seu endereço emailístico por sms.
Mas sempre lhe vou dizendo que a palavra liberdade é demasiado séria para ser usada a fim de justificar um autor pôr ou não título nas obras, masmo que seja apenas uma bd autoconclusiva de prancha única.
Mas se vamos a isso, o editor também tem a liberdade de gostar de só editar histórias com títulos, que dão de imediato uma pista ao leitor/visionador, além de o título funcionar como "teaser", porque faz nascer, logo ao primeiro contacto visual, uma certa curiosidade.
Por outro lado, quando quero citar um autor, acho redutor escrever: o autor X publicou uma bd sem título, no fanzine tal, e outra bd sem título no jornal tal.
Tenho conhecido dezenas de novos autores, e é fatal: um pouco por inexperência, ou porque não sabem que título hão-de dar, quase sempre começam por fazer bandas desenhadas sem título, coisa que não acontece com autores mais experientes. Em qualquer revista de BD que você compre, todas as histórias têm título, e os álbuns, obviamente, também. Todos os fanzines têm título, excepto um, da minha numerosa colecção, cujo título é "Sem título" -:)
De resto, a você não lhe passa pela cabeça escreverum livro, por pequeno que seja, sem título; nem um filme sem título; nem uma música sem título.
E se queremos defender a Banda Desenhada (que até há quem classifique como "Nona Arte", temos de ser rigorosos e exigentes.
Por que razão havemos de fazer isso numa banda desenhada
Olá Véte: Ao voltar aqui para ver se havia mais algum comentário, reparei que o texto da minha resposta ficou truncado.
Já não sei qual era a frase.
Mas posso acrescentar qq coisa à minha argumentação: Se eu o convidar para participar num fanzine, admitirei facilmente que a sua bd não tenha título (embora mantenha que é redutora a frase "sem título").
Mas se o destino da bd for uma revista comercial ou um jornal, cuja abrangência é vasta e dirigida a um público heterogéneo (e não a especialistas, ou a um sector vanguardista e/ou alternativo, como é o dos fanzines), então eu terei de ter em atenção que estou a tentar divulgar a BD, apresentando-a de forma clara e atraente, a fim de cativar aquela numerosa faixa de público que nunca se sentiu atraído por esta forma de Arte habitualmente algo denegrida.
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